As Boas Novas Segundo João 3:1-36

3  Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos,+ um líder dos judeus.  Ele veio ter com Jesus à noite+ e disse-lhe: “Rabi,+ sabemos que veio como instrutor da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais+ que o senhor realiza a menos que Deus esteja com ele.”+  Em resposta, Jesus disse-lhe: “Digo-lhe com toda a certeza: A menos que alguém nasça de novo,+ não pode ver o Reino de Deus.”+  Nicodemos perguntou-lhe: “Como é que um homem pode nascer quando já é velho? Será que pode entrar no ventre da sua mãe e nascer outra vez?”  Jesus respondeu: “Digo-lhe com toda a certeza: A menos que alguém nasça de água+ e espírito,+ não pode entrar no Reino de Deus.  O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do espírito é espírito.  Não se admire por causa de eu lhe ter dito: Vocês têm de nascer de novo.+  O vento sopra para onde quer, e ouve-se o seu som, mas não se sabe de onde vem nem para onde vai. Assim é com todo aquele que nasce do espírito.”+  Então, Nicodemos perguntou-lhe: “Como é que estas coisas são possíveis?” 10  Jesus respondeu-lhe: “É instrutor de Israel e ainda assim não sabe estas coisas? 11  Digo-lhe com toda a certeza: Falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos,+ mas vocês não aceitam o testemunho que damos.+ 12  Se eu vos falei de coisas terrenas e mesmo assim não acreditam, como acreditarão se eu vos falar de coisas celestiais?+ 13  Além disso, nenhum homem subiu ao céu,+ a não ser aquele que desceu do céu,+ o Filho do Homem. 14  E, assim como Moisés ergueu a serpente no deserto,+ assim será erguido o Filho do Homem+ 15  para que todo aquele que nele crer tenha vida eterna.+ 16  “Porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigénito,+ para que todo aquele que nele exercer fé não seja destruído, mas tenha vida eterna.+ 17  Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele.+ 18  Quem exerce fé nele não será julgado.+ Quem não exerce fé, já foi julgado porque não exerceu fé no nome do Filho unigénito de Deus.+ 19  Então, esta é a base para o julgamento: a luz veio ao mundo,+ mas os homens* amaram a escuridão em vez da luz, porque as suas obras eram más.+ 20  Pois quem pratica coisas más odeia a luz e não se chega à luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.* 21  Mas quem faz o que é verdadeiro aproxima-se da luz,+ para que se veja claramente que as suas obras são feitas em harmonia com a vontade de Deus.” 22  Depois disso, Jesus e os seus discípulos foram para a zona rural da Judeia; ali, ele passou algum tempo com eles, e batizava.+ 23  Mas João também estava a batizar em Enom, perto de Salim, porque havia ali uma grande quantidade de água,+ e as pessoas iam até ele e eram batizadas.+ 24  Nessa época, João ainda não tinha sido mandado para a prisão.+ 25  Então, os discípulos de João tiveram uma discussão com um judeu sobre a purificação. 26  E eles foram dizer a João: “Rabi, o homem que estava contigo do outro lado do Jordão, de quem deste testemunho,+ está a batizar, e todos vão até ele.” 27  Em resposta, João disse: “Um homem não pode receber nem uma única coisa a menos que lhe seja dada do céu. 28  Vocês mesmos são testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Cristo,+ mas fui enviado à frente dele.’+ 29  Quem tem a noiva é o noivo.+ Mas, quando o amigo do noivo está por perto e o ouve, sente muita alegria por causa da voz do noivo. Por isso, a minha alegria ficou completa. 30  Ele tem de continuar a aumentar, mas eu tenho de continuar a diminuir.”+ 31  Aquele que vem do alto+ está acima de todos os outros. Quem é da terra é da terra e fala das coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos os outros.*+ 32  Ele dá testemunho das coisas que viu e ouviu,+ mas ninguém aceita o seu testemunho.+ 33  Quem aceita o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro.+ 34  Pois aquele que Deus enviou transmite as declarações de Deus,+ porque Ele não dá o espírito de forma escassa.* 35  O Pai ama o Filho+ e entregou todas as coisas nas suas mãos.+ 36  Quem exerce fé no Filho tem vida eterna;+ quem desobedece ao Filho não verá a vida,+ mas a ira de Deus permanece sobre ele.+

Notas de rodapé

Ou: “as pessoas”.
Ou: “expostas”.
Ou: “de todas as coisas”.
Ou: “por medida”.

Notas de estudo

Nicodemos: João é o único escritor dos Evangelhos que diz que Nicodemos ajudou José de Arimateia a preparar o corpo de Jesus para o enterro. — Veja a nota de estudo em Jo 3:1.

Nicodemos: Fariseu que também era um líder dos judeus, ou seja, um membro do Sinédrio. (Veja o Glossário, “Sinédrio”.) O nome Nicodemos, que significa “conquistador do povo”, era um nome comum entre os gregos e, com o tempo, passou a ser usado por alguns judeus. O Evangelho de João é o único que menciona Nicodemos. (Jo 3:4, 9; 7:50; 19:39) Em Jo 3:10, Jesus chamou a Nicodemos “instrutor de Israel”. — Veja a nota de estudo em Jo 19:39.

o Reino de Deus: A expressão “Reino de Deus” ocorre 14 vezes no Evangelho de Marcos. Mateus só usa essa expressão quatro vezes. (Mt 12:28; 19:24; 21:31; 21:43) Mas Mateus usa cerca de 30 vezes a expressão paralela “Reino dos céus”. (Compare Mr 10:23 com Mt 19:23, 24.) O Reino era o tema da pregação de Jesus. (Lu 4:43) Os quatro Evangelhos mencionam o Reino mais de cem vezes, a maioria delas em frases ditas por Jesus. — Veja as notas de estudo em Mt 3:2; 4:17; 25:34.

nasça de novo: Jesus revelou a Nicodemos que, para alguém “ver o Reino de Deus”, precisa de nascer de novo. As palavras de Nicodemos no versículo 4 mostram que ele pensou que Jesus estivesse a falar de um nascimento literal. No entanto, logo depois, Jesus esclareceu que nascer de novo envolvia ‘nascer do espírito’. (Jo 3:5) Aqueles que ‘se tornariam filhos de Deus’ (Jo 1:12) ‘nasceriam, não do sangue, nem da vontade carnal, nem da vontade do homem, mas de Deus’ (Jo 1:13). O apóstolo Pedro usa uma expressão bíblica com o mesmo sentido em 1Pe 1:3, 23, onde diz que os cristãos ungidos recebem “um novo nascimento”. Aqui, neste versículo, a maioria das Bíblias usa a expressão “nascer de novo”, mas algumas usam a expressão “nascer do alto”. Essa opção também é aceitável visto que a palavra grega traduzida como “de novo” (ánothen) geralmente significa “do alto; de cima”. (Jo 3:31; 19:11; Tg 1:17; 3:15, 17) As duas traduções estão de acordo com a ideia de que os que entrariam no Reino teriam um novo nascimento que vem “de Deus”, ou seja, do alto. (1Jo 3:9) Mas, por causa da resposta de Nicodemos, muitos entendem que aqui a palavra grega significa “de novo; novamente”.

o Reino de Deus: Esta expressão aparece apenas duas vezes no Evangelho de João. — Jo 3:5; veja as notas de estudo em Mt 3:2; Mr 1:15.

Reino dos céus: Esta expressão aparece cerca de 30 vezes na Bíblia, e apenas no Evangelho de Mateus. Os Evangelhos de Marcos e de Lucas usam uma expressão paralela, “Reino de Deus”. Isso indica que a sede do “Reino de Deus” fica no céu, e o seu Rei governa a partir de lá. — Mt 21:43; Mr 1:15; Lu 4:43; Da 2:44; 2Ti 4:18.

nasça de água e espírito: Nicodemos provavelmente sabia dos batismos realizados por João Batista. (Mr 1:4-8; Lu 3:16; Jo 1:31-34) Por isso, faz sentido acreditar que, quando Jesus mencionou água, Nicodemos entendeu que Jesus estava a falar do batismo em água. Nicodemos também conhecia o modo como as Escrituras Hebraicas usavam a expressão “espírito de Deus”, a força ativa de Deus. (Gén 41:38; Êx 31:3; Núm 11:17; Jz 3:10; 1Sa 10:6; Is 63:11) Portanto, quando Jesus usou a palavra “espírito”, Nicodemos deve ter entendido que ele estava a falar do espírito santo. Aquilo que aconteceu ao próprio Jesus ajuda a entender o que ele disse a Nicodemos. Quando Jesus foi batizado em água, o espírito santo desceu sobre ele. Por isso, ele ‘nasceu de água e espírito’. (Mt 3:16, 17; Lu 3:21, 22) Naquele momento, Deus declarou que Jesus era o seu Filho, pelos vistos, indicando que Jesus tinha sido gerado como um filho espiritual e que tinha a perspetiva de voltar para o céu. Para ‘nascer de água’, os seguidores de Jesus precisam de abandonar o seu modo de vida anterior, arrepender-se dos seus pecados e ser batizados em água. Os que nascem tanto “de água” como de “espírito” são gerados por Deus como filhos espirituais dele, com a promessa de viverem no céu com um corpo espiritual e a perspetiva de serem reis no Reino de Deus. — Lu 22:30; Ro 8:14-17, 23; Tit 3:5; He 6:4, 5.

espírito: Ou: “força ativa”. A palavra grega pneúma refere-se aqui à força ativa de Deus. — Veja o Glossário.

O que nasceu da carne é carne: A palavra grega para “carne” (sarx) é usada aqui para se referir a um ser humano, com as limitações que um corpo de carne e osso tem. — Veja a nota de estudo em Jo 17:2.

é espírito: Ao que tudo indica, refere-se a um filho espiritual de Deus, alguém ungido com o espírito de Deus.

todas as pessoas: Ou: “toda a humanidade”. Lit.: “toda a carne”. A palavra grega usada aqui também aparece em Lu 3:6, que é uma citação de Is 40:5. O texto de Isaías usa uma palavra hebraica com o mesmo sentido. — Compare com a nota de estudo em Jo 1:14.

espírito: Ou: “força ativa”. A palavra grega pneúma refere-se aqui à força ativa de Deus. — Veja o Glossário.

vento [...] espírito: A palavra grega pneúma é geralmente traduzida como “espírito”. Aqui, aparece duas vezes e, na primeira vez, foi traduzida como “vento”. Este é o único lugar das Escrituras Gregas Cristãs em que pneúma foi traduzida como “vento”, embora a palavra hebraica correspondente, rúahh, tenha sido traduzida como “vento” cerca de 100 vezes nas Escrituras Hebraicas. (Gén 8:1; Êx 10:13; 1Rs 18:45; Jó 21:18; Za 2:6; veja o Glossário, “Espírito”.) Tanto a palavra grega como a hebraica normalmente referem-se a algo invisível e, com frequência, transmitem a ideia de uma força em ação. Jesus usou pneúma para ensinar uma verdade profunda. Na segunda vez em que a palavra foi usada neste versículo, aparece na frase todo aquele que nasce do espírito, ou seja, que é gerado pelo espírito santo, ou força ativa, de Deus. (Veja a nota de estudo em Jo 3:5.) Jesus estava a explicar a Nicodemos que ‘nascer do espírito’ podia ser comparado ao sopro do vento. Nicodemos podia ouvir, sentir e até ver os efeitos do vento, mas não era capaz de entender qual era a fonte do vento nem saber o seu destino final. Da mesma forma, quem não tivesse compreensão espiritual acharia difícil entender como Jeová, por meio do seu espírito santo, podia fazer alguém nascer de novo. Também seria difícil entender o futuro glorioso que aguarda os que nascem de novo.

Filho do Homem: Ou: “Filho de um Humano”. Esta expressão aparece cerca de 80 vezes nos Evangelhos, e Jesus usava-a para se referir a ele próprio. Pelos vistos, ele queria destacar que era realmente um humano, nascido de uma mulher, e que era um equivalente perfeito de Adão. Assim, ele poderia dar a sua vida para livrar a humanidade do pecado e da morte. (Ro 5:12, 14, 15) A expressão também mostrava que Jesus era o Messias, ou o Cristo. — Da 7:13, 14; veja o Glossário.

Filho do Homem: Veja a nota de estudo em Mt 8:20.

assim será erguido o Filho do Homem: Jesus comparou a morte que teria na estaca com o que tinha acontecido no deserto quando Moisés colocou uma serpente de cobre num poste. Naquela ocasião, muitos israelitas tinham sido picados por serpentes venenosas e precisavam de olhar para a serpente de cobre para continuarem vivos. Da mesma forma, por serem pecadores, os humanos que desejam viver para sempre precisam de olhar atentamente para Jesus por exercer fé nele. (Núm 21:4-9; He 12:2) De acordo com a Lei mosaica, quem era pendurado num madeiro (ou estaca) era considerado amaldiçoado por Deus. (De 21:22, 23) Por isso, o modo como Jesus morreu passou a impressão de que ele era um criminoso, um pecador. Mas Paulo, ao citar Deuteronómio, explicou que Jesus tinha de ser pendurado num madeiro para libertar os judeus “da maldição da Lei por se tornar maldição em [lugar deles]”. — Gál 3:13; 1Pe 2:24.

amou: Esta é a primeira vez que o verbo grego agapáo (amar) aparece no Evangelho de João. No total, esse verbo e o substantivo relacionado, agápe (amor), aparecem 44 vezes neste Evangelho – mais vezes do que nos outros três Evangelhos juntos. Na Bíblia, agapáo e agápe com frequência referem-se ao tipo de amor que não é egoísta e que é guiado, ou governado, por princípios. Uma prova disso é o uso de agapáo aqui neste versículo, que diz que Deus amou o mundo, ou seja, a humanidade pecadora que precisa de ser resgatada. (Jo 1:29) O apóstolo João também usou a palavra agápe em 1Jo 4:8, que diz: “Deus é amor.” E, em Gál 5:22, Paulo cita o amor (agápe) como o primeiro aspeto do “fruto do espírito”. Ele também descreve em detalhes esse tipo de amor em 1Co 13:4-7. O modo como a palavra é usada nas Escrituras mostra que o amor, muitas vezes, é mais do que um sentimento que se tem naturalmente por alguém. Em muitos contextos, agápe envolve fazer um esforço consciente para demonstrar amor e preocupar-se com as necessidades dos outros. (Mt 5:44; Ef 5:25) Assim, o amor que os cristãos se esforçam para desenvolver precisa de incluir um senso moral que leva em consideração princípios, deveres e o que é correto. Ao mesmo tempo, esse amor não é frio ou mecânico; muitas vezes, envolve um sentimento carinhoso que vem do coração. (1Pe 1:22) Isso fica claro no Evangelho de João. Quando João escreveu em Jo 3:35 que “o Pai ama o Filho”, usou uma forma de agapáo. Mas, quando registou as palavras do próprio Jesus sobre esse amor que o Pai sente pelo Filho, João usou uma forma do verbo grego filéo, que envolve sentimentos de carinho e afeto. — Jo 5:20.

o mundo: Na literatura grega e especialmente na Bíblia, a palavra grega traduzida aqui como “mundo” (kósmos) está relacionada com a ideia de “humanidade”. (Veja a nota de estudo em Jo 1:10.) Neste versículo, kósmos refere-se a toda a humanidade que pode ser resgatada e que, em Jo 1:29, é descrita como culpada de “pecado”, ou seja, do pecado herdado de Adão.

Filho unigénito: A palavra grega monogenés foi traduzida como “unigénito; unigénita” em todas as ocorrências nas edições anteriores da Tradução do Novo Mundo. Esta palavra pode ser definida como “único da sua espécie; sem igual; ímpar”. Sempre que o apóstolo João usa a palavra monogenés, está a referir-se a Jesus. (Jo 1:14; 3:18; 1Jo 4:9; veja a nota de estudo em Jo 1:14.) Apesar de outras criaturas espirituais também serem chamadas “filhos do verdadeiro Deus” ou “filhos de Deus”, Jesus é o único chamado “Filho unigénito”. (Gén 6:2, 4; Jó 1:6; 2:1; 38:4-7) Jesus é o Filho primogénito de Deus e foi o único criado diretamente pelo seu Pai. Nesse sentido, ele é ímpar, diferente de todos os outros filhos de Deus. Jeová gerou, ou criou, todos eles por meio do seu Filho primogénito. O apóstolo Paulo usou a palavra monogenés de maneira parecida quando falou de Isaque como o “único filho” de Abraão. (He 11:17) Abraão também era pai de Ismael, por meio de Agar, e teve vários filhos com Quetura. (Gén 16:15; 25:1, 2; 1Cr 1:28, 32) Mas Isaque foi o filho “único”, ou unigénito, num sentido especial; ele foi o único gerado por meio de uma promessa de Deus e o único filho de Abraão com Sara. — Gén 17:16-19.

nele exercer fé: Lit.: “nele acreditar para dentro”. O verbo grego usado aqui é pisteúo (relacionado com o substantivo pístis, geralmente traduzido como “fé”) e tem o sentido básico de “acreditar; ter fé”. Mas pode ter diferentes variações de sentido, dependendo do contexto e da construção gramatical. O verbo pisteúo muitas vezes indica mais do que simplesmente acreditar ou reconhecer que alguém existe. (Tg 2:19) Inclui a ideia de fé e confiança que levam alguém a obedecer. Em Jo 3:16, pisteúo é usado juntamente com a preposição eis, “para dentro”. Ao falar sobre essa passagem, um estudioso disse: “Entende-se que fé seja uma ação, algo que os homens fazem, i.e., depositar fé dentro de alguém.” (An Introductory Grammar of New Testament Greek, Paul L. Kaufman, 1982, página 46) Jesus estava a referir-se, não a um único ato de fé, mas a um modo de vida que evidencia fé. Uma expressão similar à usada neste versículo aparece em Jo 3:36, onde o apóstolo João faz um contraste entre “quem exerce fé no Filho” e “quem desobedece ao Filho”. Assim, em Jo 3:36, “exercer fé” inclui a ideia de mostrar que se acredita ou que se tem forte fé no Filho por lhe obedecer.

o mundo veio a existir por meio dele: A palavra grega traduzida como “mundo” (kósmos) refere-se aqui à humanidade, e não ao planeta Terra. Isso fica claro na parte final do versículo, que diz que o mundo não conheceu Jesus. Às vezes, a palavra kósmos era usada na literatura grega para se referir ao Universo ou à criação em geral. Pode ser que o apóstolo Paulo tenha usado a palavra com esse sentido quando falou com um grupo de pessoas gregas no Areópago. (At 17:24) No entanto, nas Escrituras Gregas Cristãs, essa palavra geralmente refere-se à humanidade como um todo ou a uma parte dela. É verdade que Jesus participou na criação de todas as coisas, incluindo o céu, a Terra e tudo o que há neles. Mas, quando João diz que “o mundo veio a existir por meio” de Jesus, o foco está no papel que ele teve na criação dos humanos. — Gén 1:26; Jo 1:3; Col 1:15-17.

um filho unigénito: A palavra grega monogenés foi traduzida como “unigénito; unigénita” em todas as ocorrências nas edições anteriores da Tradução do Novo Mundo. Pode ser definida como “único da sua espécie; sem igual; ímpar”. A Bíblia também usa monogenés com o sentido de “filho único”, e essa palavra pode referir-se tanto a filhos como a filhas. (Veja as notas de estudo em Lu 7:12; 8:42; 9:38.) Quando o apóstolo João usa a palavra monogenés, está sempre a referir-se a Jesus. (Jo 3:16, 18; 1Jo 4:9) No entanto, ele nunca usa essa palavra para se referir a Jesus durante a sua vida humana. Em vez disso, usa monogenés para falar da vida que Jesus tinha no céu como o Logos, ou a Palavra, aquele que “estava no princípio com Deus”, mesmo “antes de o mundo existir”. (Jo 1:1, 2; 17:5, 24) Jesus pode ser chamado “filho unigénito” porque foi, não apenas o primeiro Filho de Jeová, mas também o único criado diretamente por ele. Apesar de outras criaturas espirituais também serem chamadas “filhos do verdadeiro Deus” ou “filhos de Deus” (Gén 6:2, 4; Jó 1:6; 2:1; 38:4-7), Jeová criou-as a todas por meio de Jesus, o seu Filho primogénito. (Col 1:15, 16). Em resumo, a palavra monogenés refere-se tanto a Jesus ser “o único da sua espécie; sem igual; ímpar” como a ele ser o único filho que Jeová criou diretamente, sem a colaboração de mais ninguém. — 1Jo 5:18; veja a nota de estudo em He 11:17.

julgasse: Ou: “condenasse”. Jeová não enviou o seu Filho para julgar e condenar o mundo, ou seja, a humanidade. Em vez disso, por amor, ele enviou Jesus para salvar os que exercessem fé. — Jo 3:16; 2Pe 3:9.

julgasse: Ou: “condenasse”. Jeová não enviou o seu Filho para julgar e condenar o mundo, ou seja, a humanidade. Em vez disso, por amor, ele enviou Jesus para salvar os que exercessem fé. — Jo 3:16; 2Pe 3:9.

julgado: Ou: “condenado”. — Veja a nota de estudo em Jo 3:17.

a luz: A primeira ocorrência da palavra “luz” neste versículo refere-se a Jesus. A vida e os ensinos de Jesus iluminaram a humanidade e refletiram o conhecimento e a luz espiritual que vinham de Jeová Deus. Jesus também é chamado “luz” em Jo 1:7-9. — Para uma explicação sobre a expressão veio ao mundo, veja a nota de estudo em Jo 1:9.

mundo: A palavra grega traduzida como “mundo” (kósmos) refere-se aqui à humanidade como um todo. Neste versículo, a expressão vir ao mundo parece referir-se principalmente ao batismo de Jesus, e não ao nascimento dele. Depois do seu batismo, Jesus tornou-se uma luz para a humanidade, realizando o ministério que tinha recebido do seu Pai. — Compare com Jo 3:17, 19; 6:14; 9:39; 10:36; 11:27; 12:46; 1Jo 4:9.

ele [...] batizava: Ao que tudo indica, o batismo era realizado sob a supervisão de Jesus, visto que Jo 4:2 diz que ‘Jesus não batizava, mas sim os seus discípulos’.

a batizar: Ou: “a mergulhar”. A palavra grega baptízo significa “imergir; afundar [algo]”. A Bíblia indica que o batismo envolve mergulhar completamente uma pessoa. Por exemplo, este versículo diz que João estava a batizar em Enom “porque havia ali uma grande quantidade de água”. (Veja a nota de estudo em Enom neste versículo.) Além disso, At 8:39 mostra que, depois de Filipe batizar o eunuco etíope, eles ‘saíram da água’, ou seja, eles estavam dentro de água. E a Septuaginta usou a palavra baptízo em 2Rs 5:14, que diz que Naamã “mergulhou no Jordão sete vezes”.

Enom: Um lugar em que havia uma grande quantidade de água. Enom ficava perto de Salim, que, pelos vistos, era um lugar mais conhecido. Não se sabe exatamente onde é que esses dois lugares ficavam, mas Eusébio indica um local no vale do Jordão, cerca de 8 milhas romanas (12 quilómetros) a sul de Citópolis (Bete-Seã). Este é o local onde hoje fica Tell Ridgha (Tel Shalem), que alguns acreditam ser Salim. Perto dali, existem várias fontes de água que podem encaixar-se na descrição que Eusébio fez de Enom. Este é o único versículo da Bíblia em que Enom e Salim são mencionados.

do outro lado do Jordão: Ou: “do lado leste do Jordão”. Os dois lugares mencionados em Jo 3:23, Enom e Salim, ficavam do lado oeste do rio Jordão. João batizou Jesus em “Betânia, do outro lado do Jordão”, ou seja, do lado leste. — Veja a nota de estudo em Jo 1:28 e o Apêndice B10.

Betânia, do outro lado do Jordão: Ou seja, a leste do rio Jordão. Esta Betânia é mencionada apenas uma vez nas Escrituras Gregas Cristãs. Havia outra cidade com o mesmo nome, que ficava perto de Jerusalém. (Mt 21:17; Mr 11:1; Lu 19:29; Jo 11:1) Hoje, sabe-se apenas que a Betânia mencionada aqui ficava na margem leste do Jordão, mas não é possível saber a localização exata. Alguns dizem que ficava mais ou menos em linha reta com Jericó, num lugar que é defendido por muitos como o local do batismo de Jesus. Contudo, esse local é muito distante de Caná da Galileia, e o relato em Jo 1:29, 35, 43 e 2:1 parece indicar um local mais próximo de Caná. Assim, apesar de não ser possível saber a localização exata de Betânia, é mais provável que ficasse, não em linha reta com Jericó, mas num lugar mais a norte, um pouco mais perto do mar da Galileia. — Veja o Apêndice B10.

o amigo do noivo: Nos tempos bíblicos, um amigo achegado do noivo agia como seu representante legal e tinha um papel importante nos preparativos para o casamento. Por isso, era visto como a pessoa que unia a noiva e o noivo. No dia do casamento, um cortejo levava a noiva da casa do seu pai até à casa do noivo ou do pai do noivo, e ali era realizada a festa de casamento. Durante a festa, o amigo do noivo ficava contente quando ouvia a voz do noivo a falar com a noiva, porque sentia que tinha cumprido bem o seu papel. João Batista comparou-se ao “amigo do noivo”. Neste caso, Jesus era o noivo, e os seus discípulos como grupo eram a noiva. João Batista preparou o caminho para o Messias por apresentar a Jesus Cristo os primeiros membros da “noiva” dele. (Jo 1:29, 35; 2Co 11:2; Ef 5:22-27; Ap 21:2, 9) Assim, ele realizou o seu trabalho como “o amigo do noivo”. Depois disso, o seu papel já não seria tão importante. Foi por isso que ele disse: “Ele [Jesus] tem de continuar a aumentar, mas eu tenho de continuar a diminuir.” — Jo 3:30.

Aquele que vem do alto: As palavras deste versículo até ao final do capítulo parecem ser do escritor deste Evangelho, o apóstolo João, e não uma continuação das palavras de João Batista ou uma citação direta das palavras de Jesus. Ao analisar o capítulo 3, é possível chegar à seguinte conclusão: A conversa de Jesus com Nicodemos, que começa em Jo 3:2, vai até Jo 3:21. Depois disso, até Jo 3:25, o apóstolo João relata alguns acontecimentos. De Jo 3:26 até Jo 3:30, ele relata outra conversa, dessa vez entre João Batista e os seus discípulos. E em Jo 3:31-36 João volta a registar as suas próprias palavras. Apesar de João não ter atribuído a Jesus as palavras desses versículos, elas, sem dúvida, refletem verdades que Jesus lhe ensinou.

confirma: Lit.: “sela”. A palavra grega para “selar; colocar um selo em” é usada aqui em sentido figurado. Transmite a ideia de confirmar que uma declaração é verdadeira, da mesma forma que um selo confirma que um documento é autêntico, ou verdadeiro. A pessoa que aceita o testemunho do Messias reconhece que Deus é verdadeiro – nesse caso, em relação ao que ele profetizou sobre o Messias. — Compare com Ro 3:4.

nele exercer fé: Lit.: “nele acreditar para dentro”. O verbo grego usado aqui é pisteúo (relacionado com o substantivo pístis, geralmente traduzido como “fé”) e tem o sentido básico de “acreditar; ter fé”. Mas pode ter diferentes variações de sentido, dependendo do contexto e da construção gramatical. O verbo pisteúo muitas vezes indica mais do que simplesmente acreditar ou reconhecer que alguém existe. (Tg 2:19) Inclui a ideia de fé e confiança que levam alguém a obedecer. Em Jo 3:16, pisteúo é usado juntamente com a preposição eis, “para dentro”. Ao falar sobre essa passagem, um estudioso disse: “Entende-se que fé seja uma ação, algo que os homens fazem, i.e., depositar fé dentro de alguém.” (An Introductory Grammar of New Testament Greek, Paul L. Kaufman, 1982, página 46) Jesus estava a referir-se, não a um único ato de fé, mas a um modo de vida que evidencia fé. Uma expressão similar à usada neste versículo aparece em Jo 3:36, onde o apóstolo João faz um contraste entre “quem exerce fé no Filho” e “quem desobedece ao Filho”. Assim, em Jo 3:36, “exercer fé” inclui a ideia de mostrar que se acredita ou que se tem forte fé no Filho por lhe obedecer.

exerce fé [...] desobedece: Veja a nota de estudo em Jo 3:16.

Multimédia

Selar um documento
Selar um documento

Nos tempos antigos, os selos eram usados para vários objetivos. Por exemplo, o selo podia indicar que a pessoa concordava com o conteúdo do documento ou podia comprovar que o documento era autêntico. (Veja o Glossário, “Selo”.) Durante o domínio dos gregos e romanos, as pessoas registavam acordos jurídicos ou comerciais em tabuinhas de madeira cobertas por cera. Essas informações eram importantes e tinham de ser confirmadas por testemunhas. Quem servia como testemunha tinha um selo pessoal, um símbolo único que muitas vezes estava gravado num anel. Depois de o documento ser fechado e amarrado com um cordão, colocava-se um pouco de cera quente sobre o cordão e o selo era pressionado contra a cera. Quando a cera arrefecia, o documento ficava selado, ou lacrado, e permanecia assim até ser aberto publicamente. Dessa forma, as testemunhas atestavam, ou reconheciam, que o documento era autêntico e ficava protegido contra alterações. Por isso, as expressões “selar” e “colocar um selo em” passaram a ser usadas com o sentido de certificar, autenticar ou confirmar que algo era verdadeiro. O apóstolo João escreveu que quem aceita o testemunho de Jesus “confirma (lit.: “sela”) que Deus é verdadeiro”. — Veja a nota de estudo em Jo 3:33.